terça-feira, 23 de março de 2021

Tecidos: Cálculos para a Reprodução

Tecidos Cálculos para a Reprodução

    Estes cálculos têm como finalidade encontrar todas as indicações técni­cas para a reprodução e montagem de um artigo.

    A reprodução de um tecido dado nunca pode ser realizada rigorosa e exactamente, pois os processos de análise são mais empíricos que científi­cos. Os cálculos que a seguir se estudam, constituem uma tentativa de tornar a reprodução de um tecido, a partir de uma amostra dada, um trabalho coe­rente. No entanto eles constituem apenas uma “previsão” técnica, cujas indi­cações poderão e deverão ser corrigidas pelas indicações práticas fornecidas pela montagem e execução de uma amostra de ensaio, que se fará antes da fabricação definitiva do artigo.

    Cálculos:
    É nos fornecida a amostra “A” de um tecido que é preciso reproduzir. Dessa amostra cortaremos uma outra com 5 cm×5 (*) (ou outra área, mas cortada rigorosamente) e encontra-se:
    a)peso da amostra 5 cm ×5 cm (em gramas)
    b) peso de 40 fios (por exemplo) desfiados da mesma amostra (em gramas)
    c) peso de 40 passagens da mesma amostra (em gramas). Se houver várias qualidade e “números” de fios ou de passagens, procederemos para cada caso individualmente
    d) extensões, isto é, o aumento do comprimento dos fios e das passa­gens apenas pela remoção do ondulado provocado pelo cruzamento no tecido
    (Não se deve entrar com a elasticidade própria dos fios).
    Existe um aparelho, o Extensiómetro de Shirley para executar estas medidas. Na sua falta, coloca-se um fio ou uma passagem, retirado da amos­tra de 5 cm x 5 cm, sobre a graduação de uma régua e prende-se uma das extremidades com a ponta de um dedo da mão esquerda. Seguidamente, passa-se, fazendo uma leve pressão, o indicador da mão direita ao longo do fio, da extremidade presa até à solta, para remover a ondulação. Leia-se na escala da régua o aumento de comprimento do fio. Comprimento após a extensão: 5,6 cm.
   Este último comprimento é o comprimento real do fio que foi necessário para produzir 5 cm de tecido.
    Devemos fazer pelo menos 10 medições para os fios e 10 para as passa­gens, e achar as respectivas médias aritméticas.
    d)     fios por centímetro na amostra
    f) passagens por centímetro na amostra

Seguidamente, devemos fixar o seguinte:
    a) Largura em acabado que o tecido deverá ter. (Por exemplo, 1,50 m, etc., conforme o artigo.)
  b) Comprimento útil da teia que desejamos tecer. (Deve-se dar sempre mais 1 m ou 1,5 m para desperdícios durante as operações de prepa­ração e de tecelagem, etc., além deste comprimento.)
   c) Percentagem de quebra, isto é, perda de peso total durante a ultimação.
    (Esta percentagem terá que ser assumida de acordo com uma tabela tirada da experiência que fixa as quebras normais para os diferentes tipos principais de artigos.)

    Podemos agora iniciar o cálculo das características técnicas do tecido:
    1.º) Peso por metro quadrado;
    2.º) Peso por metro linear, sendo a largura a do tecido acabado;
    3.º) Número do fio da teia;
    4.º) Número do fio da trama
    5.º) Número total dos fios da teia;
    6.º) Largura no pente;
    7.º) Fios por cm no tear;
    8.º) Passagens por cm no tear;
    9.º) Comprimento do tecido acabado;
    10.º) Comprimento do teçido em xerga;
    11.º) Peso total em acabado;
    12.º) Verificação do peso.
     
    Cálculo:
1)  Peso por mem gramas = Peso da amostra em gramas x 1002
                                                Superfície da amostra (cm2)

2)  Peso por metro linear = Peso da amostra em gramas  x 100 x largura do tecido
                                            Superfície da amostra (cm2)          em acabado.

3 e 4) N.do fio da teia e da trama (supondo que utilizamos 40 fios e 40 passagens) de uma amostra 5cm x 5cm
Tecidos Cálculos para a Reprodução
    N é o número teórico do fio e deve ser sujeito a duas correcções. Uma, motivada pelo fio gasto no entrelaçamento quando na tecelagem, de modo que na realidade o fio que nós pesamos tem mais de 2 metros. A segunda correcção é motivada pela perda de matéria na ultimação.
1.º  CORRECÇÀO=  N Comprimento após a extensão = N’
                                   Comprimento antes da extensão
        N’ é portanto um número maior que N visto o fio ser mais fino do que a pesagem nos indicou.


2.º CORRECÇÀO= N’ x 100 - percentagem de perda =N’’
                                                           100
    N” é menor que N’, pois o fio perde matéria na ultimação. (Este é o número real do fio). Este cálculo é semelhante para a teia e para a trama.

5) Número total dos fios da teia número de fios por cm na amostra x a largura em acabado.

6) Largura no pente= Larg. em acabado × comp. após exten. (Trama)
Comp. antes da extensão (Trama)

7)Fios por cm no tear=  Número total dos fios da teia
                                           Larg. no pente em cm

8) Passagens por cm no tear= Passagens por cm na amostra × comp. antes da extensão (Teia)
                                                                       Comp. após a extensão (Teia)

9 )Comprimento do tecido acabado=  Comp. teia × comp. antes da extensão
                                                                    Larg. após extensão (Teia)

10) Comprimento do tecido em xerga= Comprimento da teia — [(comprimento da teia - comprimento do tecido acabado) × 2/5].
2/5 é um factor derivado da prática que, no entanto, pode variar com o tipo de debuxo, o tear usado, o processo de fiação usado na fiação do fio, as condições de humidade relativa, etc.

11) Peso acabado = Peso por metro linear x comprimento em acabado.
                                                                               
12)Peso da teia= Número total de fios da teia x   Comprimento da teia   =K1
                           Número métrico de fio de teia              1000
 
13)  Peso da trama= Passagens por cm no tear × larg. no pente × comp. em xerga =K2
                                               Número métrico do fio da teia x 100

14)  Peso total da peça em xerga= K+ K=K3

15)  Peso em acabado = K3 x 100 - % da perda no acabamento = K4
                                                                100
    (K4 deve ser sensivelmente igual ao resultado da alínea 11).
    Uma vez obtidos estes elementos sobre a estrutura e montagem do tecido, constroi-se a ficha de produção com a informação técnica necessária para a sua fabricação, O sector de produção de amostras realizará a tecela­gem e devolverá ao Gabinete de Design as amostras depois de tecidas, com a sua identificação, para apreciação e selecção.


FICHA DO ARTIGO

— Tipo do tecido:______________________________          Data ________
— N.de referência_____________________________


MONTAGEM NO TEAR
— Fios/cm:_________________       Fiodateia:n0______________    Torção________
— Passagens/cm:____________        Fio da trama: n0______   Torção________
— Largura no pente:_______________________________________________
— Pente n.0___________   Picado no pente_____________________________
— Número de perchadas (ou liços)____________________________________
— Número total dos fios da teia (conto)________________________________
— Comprimento da teia ____________________________________________
OUTROS ELEMENTOS

— Comprimento do tecido em xerga___________________________________
— Peso(s) do(s) fio(s) da teia ________________________________________
— Peso(s) do(s) fio(s) da trama ______________________________________
—        Total do peso do tecido em xerga________________________________
—        Peso/mdo tecido ____________________________________________
—        Largura fora do tear __________________________________________
—        Ordem de cor à teia___________________________________________
—        Ordem de cor à trama_________________________________________
—        Debuxo____________________________________________________
—        Remissa____________________________________________________
—        Risco______________________________________________________

—        Ourelas____________________________________________________

Análise de Tecidos: Reprodução de uma amostra dada

 Corno ponto de partida, referem-se as questões envolvidas na análise de um tecido que deve ser reproduzido:

    a)  análise da matéria-prima:
    a1) composição qualitativa
    a2) composição quantitativa percentual
    b)  análise do fio:
    b1) método de fiação

  • cardado
  • penteado
  • supercardado
  • open-end
    b2) número de cabos
    b3) torção dos cabos
    b4) retorção
    c)  análise da estrutura do tecido:
    c1) determinação do direito e do avesso do tecido
    c2) determinação da teia e da trama
    c3) determinação do debuxo por desfiação da amostra dada
    c4) determinação a partir do debuxo obtido da remissa no mínimo número de liços e do respectivo risco (usando as regras normais para tais casos, estudados em estrutura de tecidos),
    d)cálculo dos parâmetros técnicos para a reprodução da amostra dada
    e) tinturaria e acabamento

    Limitar-nos-emos agora aos aspectos estruturais da análise de tecidos, ou seja da alínea c).
    c1) Distinção do direito e do avesso
    Para distinguir o direito do avesso devemos observar cuidadosamente a amostra. Assim:
    1.º o direito é aquele que tiver aspecto e acabamento mais cuidado
    2.º no direito os cordões de sarja e de diagonal, correm da esquerda para a direita e de baixo para cima
    3.º o pêlo tombado é sempre do direito. Há artigos que têm pêlo do avesso para os tornar mais macios, mas neste caso o pêlo é curto e pouco regular
    4.º se a teia e a trama forem de qualidade diferente, o direito é o lado em que a melhor qualidade estiver mais em evidência: caso dos cetins.

    c2) Distinção da teia e da trama:
    1.º O fio da teia é mais resistente que o fio da trama
    a) o fio da teia é mais grosso
    b) tem mais torção
    c) tem maior número de cabos
    d) a matéria-prima da teia tem mais resistência
    2.º a densidade da teia é geralmente maior que a densidade da trama. Devemos fazer excepção para os debuxos por trama, que geral­mente têm maior número de passagens por centímetro.
    3.º se o tecido tem riscas elas são geralmente verticais, salvo quando a moda indica riscas à trama
    4.º se o tecido tem pêlo ele provém sempre da trama porque a percha desenvolve o pêlo a partir da trama. Se o pêlo é tombado fica na direcção da teia
    5.º se o tecido tem cordões de sarja ou de diagonal eles correm de baixo para cima e da esquerda para a direita, sendo formados pela teia
    6.º  se o tecido é em xadrez, o lado maior do xadrez é na direcção da teia
    7.º  nos tecidos em que a teia e a trama são de cores contrastantes, sendo uma clara e outra escura, a teia é geralmente clara
    8.º  se o tecido apresenta marcas do pente, isto é, riscos paralelos fei­tos pelo espaçamento dos fios, essas marcas são no sentido da teia

    c3)  Desfiação: a determinação do debuxo ou estrutura do tecido é feita por desfiação de uma amostra, passagem por passagem ou fio a fio, registando os respectivos cruzamentos em papel de debuxo (segundo os esquemas dados a seguir) até se obter a repetição, e constituindo-se então o módulo da estrutura.

Análise de Tecidos: Reprodução de uma amostra dada
Fig.

Tecidos: Caracterização de um Projecto

Tecidos: Caracterização de um Projecto

    Para poder caracterizar os seus projectos de tecidos o designer deve ter uma clara ideia sobre qual é a sua posição e quais as suas relações funcio­nais no complexo de influências e informações, por um lado, e objectivos e metas a atingir, por outro.

    As relações com os sectores de investigação, de marketing e de produ­ção podem ser esquematizadas do seguinte modo:

Tecidos: Caracterização de um Projecto


    1 - O sector de marketing envia ao design as informações sobre as necessidades dos clientes.
    2 - O design fornece ao marketing os novos projectos de tecidos, cores e desenhos.
    3 - O design consulta a investigação sobre novas tecnologias, matérias­-primas e equipamentos.
  4 - A investigação informa o design sobre as inovações tecnológicas, materiais, equipamentos e processos.
  5 - O design dá instruções para a produção sob a forma de projectos técnicos de tecidos a fabricar experimental ou já definitivamente.
  6 - A produção informa o design sobre as condições de execução dos projectos enviados, com vista ao seu melhoramente se for caso disso, ou com a confirmação da sua validade técnica.

    Para a elaboração do projecto de um tecido o designer disporá assim das informações necessárias que ele sistematizará em:
    —finalidade do tecido e a quem se destina
    — matérias-primas (fibras têxteis) e a sua composição percentual
    —fios (título, sistema de produção, número de cabos e torção)
    — cores e sua solidez
    —estrutura (debuxo)
    — montagem no tear (fios/cm e passagens/cm)
    —disposição das cores à teia e à trama
    —características técnicas como peso/m2, largura, etc.
    —simulação do efeito
    —custo de produção
    — acabamento
    As fases de caracterização do projecto e os cálculos que para ele são necessários dependem do tipo de projecto, isto é se se trata de:
    — COPIAR um tecido que é considerado como bom
    — INTRODUZIR modificações num tecido já existente
    — PRODUZIR um tecido novo

    Vêm a propósito algumas considerações sobre o que é um tecido novo.
   Sob o ponto de vista do marketing um produto novo é o que se diferencia dos seus similares por algum dos seguintes aspectos:
    — Propriedades estéticas ou formais
    — Condições de uso
    — Condições de aquisição

    Esse produto novo pode vir satisfazer necessidades de uso ainda não satisfeitas; ou criar novas necessidades; ou corresponder dum modo dife­rente a necessidades já existentes.
    Sob o ponto de vista dos tecidos, uma simples variação de cor originaria um artigo novo, por ser uma variação duma qualidade estética. Mas de facto as variações das cores dum tecido são geralmente consideradas como varian­tes dum padrão ou desenho e não como novidades, a não ser que se trate de um tecido liso clássico agora fabricado nas novas cores de moda.
    As fibras não naturais (artificiais e sintéticas) vêm, desde os anos 50, propondo verdadeiros novos tecidos, com propriedades novas e melhoradas, dando ocasião a misturas diferentes em tipo de fibras e percentagens que resultam em verdadeiros novos tecidos e proporcionam até novos usos, de que é um exemplo flagrante o desporto “wind surf” que só é possível com velas leves de tecido de nylon ou poliéster que não absorve água.

    Mas a tarefa do designer para vestuário é de facto produzir tecidos que correspondam às variações desejadas pelo mercado ou que correspondam às suas necessidades e/ou hábitos, introduzindo um grau de novidade comer­cialmente possível, por alteração das características dos tecidos ou por pro­dução experimental de amostras.

Tecidos: As Coleções de Amostras

Tecidos: As Coleções de Amostras
    Todas as informações recolhidas pelo designer sobre o mercado e o pro­duto devem ser por ele transformadas em informações técnicas e estéticas que lhe permitam projectar o tecido e dar as indicações para a produção das respectivas amostras. Estas depois de acabadas e seleccionadas são organi­zadas em colecções. São essas colecções que são apresentadas aos clientes para a recolha de encomendas.

    Para o designer as informações do mercado devem originar opções do seguinte tipo:
    - Escolha das matérias-primas (fibras têxteis e/ou fios) e definição das misturas para a obtenção do PREÇO e/ou das caracterís­ticas técnicas e estéticas desejadas.
    - Escolha das cores e do seu grau de solidez (à luz, à lavagem, ou outras...) conforme o tipo de tecido e o uso a que se destina.
    - Escolha da contextura e peso/m2. Estes resultam da com binação dos fios (finos, médios, grossos), da estrutura (debuxo), da densi­dade da montagem no tear (fios/cm).
    - Escolha dos desenhos ou efeitos estéticos que podem resultar da estrutura (debuxo) dos fios ou da estampagem de tecidos lisos.
  - Escolha do acabamento que dará o aspecto e o toque final aos tecidos assim como a sua estabilização dimensional. Esta é de capital importância para a subsequente confecção.

    Tais elementos fazem parte do projecto do tecido e como tal serão trata­dos nos seus aspectos técnicos nos capítulos subsequentes deste livro. Agora dir-se-ão apenas algumas palavras sob a organização das colecções de amostras.
    A sua apresentação é de grande importância comercial. Para cada tipo de tecido deve ser feita uma etiqueta com informações de tipo/referência/peso por m2/composição percentual/solidez das cores/acabamentos especiais/estabilização dimensional e todas as indicações que identifiquem e valori­zem o produto aos olhos do cliente. A marca do fabricante, o seu endereço e outros qualificativos devem também figurar no cabeçalho impresso da amos­tra ou na respectiva etiqueta.
   Cada amostra deve ser acompanhada de alternativas de cor, dando ao cliente oportunidade de escolha.

  A amostra principal pode ter 30 x 50 cm, área que é suficiente para poder ser apalpada dando indicações sobre o seu toque, macieza, cair, resiliência, características tacto-motores que só a mão pode dar e que os clientes sabem apreciar.

Tecidos: Comercialização e Marketing

Tecidos: Comercialização e Marketing

    A criação dos tecidos deve ter em conta as condições de comercialização e por isso o designer deverá ter conhecimentos de marketing que lhe permi­tam não só conceber o tecido de acordo com os condicionantes comerciais do mercado para a qual ele se destina, mas também tendo em consideração as características sócio-culturais dos potenciais consumidores desse tecido.

    Pode aplicar-se às trocas comerciais o esquema universal das trocas de informação:
Tecidos: Comercialização e Marketing

    que se transformará no seguinte modelo:
Tecidos: Comercialização e Marketing

    O preço a concorrência e a qualidade são, neste modelo geral, as refe­rentes condicionantes da troca de informação ou seja da transacção comer­cial do PRODUTO através dos canais de comercialização que estabelecem a ligação entre o PRODUTOR e o CONSUMIDOR.
    Existe assim um triângulo de entidades: PRODUTOR - COMERCIANTE - CONSUMIDOR que são relacionadas entre si por interesses comuns mas que têm cada uma o seu ponto de vista próprio relativamente à qualidade e ao preço do produto.
    Relativamente ao preço, o produtor deverá pensar em termos de minimi­zação do custo de produção; o comerciante em termos de melhor preço de venda (que pode não ser o mais elevado, mas sim o mais conveniente perante a concorrência, ou na óptica de uma política de vendas); o consumidor, esse pensará em valor adquirido pelo dinheiro gasto. Valor que pode ser conside­rado como realização de um desejo, satisfação de uma necessidade, ou como prazer e fruição estética.
    Relativamente à qualidade, a posição do produtor traduz-se nas caracte­rísticas técnicas do produto, e no seu controlo, assim como no valor acres­centado que o processo de transformação junta às matérias-primas.
    Para o comerciante, a qualidade é constituída pelas características que tornam o produto desejável, tais como, os valores estéticos e de inovação no design (moda), a boa caracterização do produto (etiquetagem, marca, composição, manutenção) e tudo o que o prestigiar (tal como a embalagem), con­tribuindo para que o consumidor o adquira e tenha satisfação.
    Do ponto de vista do consumidora qualidade é o somatório de todas estas características, juntas à adequação exacta à finalidade para que o con­sumidor adquire o produto. A existência de um serviço de garantia das carac­terísticas de uso e manutenção, dado através de etiquetas, pelo produtor ou pelo comerciante, funciona aqui como um verdadeiro serviço de pós-venda. Por isso a marcação e correcta etiquetagem dos produtos têxteis é um indis­pensável factor de qualidade.
    Uma vez assim definida a função comercial, importa considerar, do ponto de vista do designer, a contribuição que o marketing pode dar à criação de tecidos. Dum modo geral o marketing é a aplicação racional equilibrada dos conhecimentos recolhidos da análise do mercado para que se trabalha.
    A sua acção estende-se desde o controlo da qualidade das matérias-primas adquiridas para a fabricação do tecido, até à embalagem, etiquetagem e conhecimento dos canais de comercialização através dos quais o produto chega aos seus compradores e utilizadores finais, passando obviamente pelo design.
    Assim o marketing considera:
    1 - os produtos – tecidos - e a sua oferta
    2 - os clientes, presentes e potenciais
    3 - a concorrência e os níveis de preço
    4 - a distribuição
    5 - a área (geográfica ou humana a que o produto se destina)

    A definição dum tecido depende de factores técnicos e estéticos, que só ganham significado perante o conhecimento integrado das funções a que eles se destinam. Mas algumas características podem por si só ser significati­vas, como por exemplo o peso dos tecidos destinados ao vestuário.
    Ë assim que esses tecidos podem ser considerados como leves, pesados ou de meio peso, conforme o seu peso em gramas por metro quadrado. É óbvio que para vestuário esse peso é importante, podendo dizer-se que até 150 g/mos tecidos são considerados leves; acima de 250 g/msão pesados; e entre estes dois limites encontram-se os de meio peso.
    Mas tais limites não são rígidos e é o mercado, a moda, e o clima que delimitam as noções do peso do tecido. Os países quentes usam tecidos muito mais leves que os países frios. Os países mais avançados tecnologica­mente usam tecidos mais leves mesmo no inverno, por causa do ar condicio­nado nos escritórios e locais de trabalho.
  A oferta dos tecidos é geralmente feita em FEIRAS para profissionais que têm um carácter internacional. Mas é preciso saber quem é o cliente. Actual­mente os clientes dos tecidos podem ser os seguintes:
    - fábricas de confecção
    - armazéns de tecidos (para revenda)
    - lojas de venda directa a metro (em vias de desaparecimento)
    - cadeias de lojas com fabricação própria de confecção mais ou menos personalizada
    - gabinetes de design de moda que produzirão protótipos e colecções de moda

    Os maiores clientes (qualitativamente) são obviamente as fábricas de confecções, mas esses geralmente inclinam-se para os artigos menos inova­dores e menos arriscados sob o ponto de vista estético.
    Os gabinetes de design ou as lojas com fabricação própria, esses, inclinar-se-ão para os artigos mais inovadores e na ponta dianteira da moda.
    Nas feiras de amostras o designer deve participar como agente de assis­tência às vendas, pois das trocas de ideias com os clientes potenciais e efec­tivos resulta um caudal de informações que lhe são preciosas, relativamente aos produtos seus e da concorrência.
    Nessas feiras geralmente recebem-se encomendas de “coupons” - peque­nas metragens de tecidos para experiência - que posteriormente serão con­firmadas pelo comprador em encomendas definitivas.
    Outro canal de comercialização é a oferta, através de visita aos clientes, mostrando a colecção de amostras para uma dada estação e recolhendo encomendas de coupons ou já definitivas.
    Tais visitas poderão ser feitas também pelo designer (debuxador), nas pequenas fábricas.
   Nas empresas de maiores dimensões o designer, que não pode acompa­nhar as vendas, deve sempre receber um relatório do departamento comercial sobre o andamento da comercialização dos tecidos.
    A elaboração de catálogos impressos ou a publicação de “revistas espe­ciais” com abundante documentação fotográfica dos tecidos e dos seus usos é também um sofisticado instrumento de venda.       Tais publicações incluirão informação técnica sobre os tecidos, previsões de moda e artigos de informa­ção sobre a empresa, sua história, evolução, objectivos e êxitos industriais. Quanto ao preço, ele deve ser tanto condicionado pela capacidade do mer­cado alvo como pelo custo de produção. No entanto o conhecimento do pró­prio custo de produção é o condicionante primeiro para não se realizarem vendas abaixo do seu nível, o que leva invariavelmente ao insucesso comer­cial e administrativo.
   Tais vendas abaixo do preço de custo de produção só se justificarão cal­culadamente em campanhas de lançamento de um produto novo (o que raramente é o caso nos tecidos) ou por razões de luta concorrencial. Mas sempre em prazos e quantidades limitadas e programadas.
   O conhecimento dos custos directos e indirectos de produção é impor­tante para a técnica de custeio de que o designer necessita. Uma boa técnica de cálculo de custo de produção é indispensável paralelamente à concepção técnica dum artigo.
    Do custo depende em primeiro lugar a viabilidade prática da produção de um dado artigo e em última análise depende a própria estabilidade e pro­gresso da empresa produtora.
   O cálculo e a minimização dos custos industriais de produção fazem parte integrante do bom “design” — no mais largo sentido do termo.
   Os custos directos são os que são necessários para que o artigo efecti­vamente seja produzido e podem imputar-se aos artigos, de um modo ime­diato, tais como matérias-primas efectivamente gastas, mão-de-obra empre­gue no artigo e despesas várias com a fabricação do artigo.
    Os custos indirectos são os que só por cálculo, por estimativa, ou por quotas se podem imputar ao artigo, tais como, mão-de-obra administrativa e de manutenção da fábrica, serviços auxiliares, energia, matérias várias indis­pensáveis à laboração, gastos financeiros, amortizações do equipamento, etc., etc.        Uma rigorosa técnica de custeio deve assentar numa Contabilidade Analítica que determine o custo da laboração de cada máquina (ou grupo coerente de máquinas) em termos de unidade de obra (por peça processada) ou uma unidade adequada ao processo e ao produto, por exemplo por Kg de fio produzido de um título standard, por número de passagens dadas nos teares (1000 passagens, por exemplo) ou por quantidade de trama gasta por hora (ou 8 horas); ou por metro de tecido fabricado; ou por número de peças realizadas num dado tempo (malhas e confecções), etc.
    Indispensável é saber também a afectação da mão-de-obra directa à pro­dução efectiva de cada operação ou grupo de operações, em termos da uni­dade escolhida. Estes valores podem ser obtidos por observação directa da produção, por contagem de tempos, ou por cálculo médio relativo a produ­ções semelhantes anteriormente feitas (custos históricos).
    Na fase de concepção em que nos encontramos, o uso dos custos histó­ricos pode auxiliar-nos a fazer uma estimativa do custo do artigo novo que estamos a criar.
    Uma vez conhecido (ou estimado) o custo de produção, deve calcular-se o preço de venda unitário sabendo que:
     Preço na fábrica Custo total ± Margens

    Estas margens devem incluir lucro industrial, lucro comercial, transpor­tes, comissões, descontos, etc.
   Este preço de venda deve agora ser submetido a crítica relativamente ao mercado a que se destina (comparando-o com o preço de produtos concor­rentes) e em relação à sua qualidade. Por seu lado esta noção de qualidade deve ser também adequada ao nível do mercado a que o produto se destina.
    Ë pois necessário estabelecer uma relação entre mercado, qualidade e preço. Assim, se o mercado for do chamado terço superior que exige produ­tos de alta qualidade em termos técnicos e também de moda, o factor preço alto não é praticamente relevante, se as características de estética e de novi­dade do produto forem bem marcadas e sensíveis.
    No terço superior do mercado existe uma relação directa entre preço e qualidade. Já no terço médio do mercado pode assim não acontecer, sendo a finalidade do artigo o factor mais importante para definir a qualidade e a sua relação com o preço. Aqui coloca-se com toda a premência o aforismo inglês “Value for Money” ou seja o consumidor exige valor (isto é, qualidade e ade­quação ao fim a que se destina o artigo) em troca do dinheiro que paga.
    No terço inferior é já o preço que comanda. O preço mais baixo é o que melhor vende, mesmo se a qualidade não for boa quer técnica quer estetica­mente. A definição do mercado para que se trabalha é pois um dado da polí­tica comercial da fábrica que tem influência decisiva no trabalho de concep­ção do desenhador têxtil.

    ESTRUTURA DE CUSTOS:

1. Matérias-primas e materiais
        1.1. Matérias-primas
        1.2. Produtos de acabamento e tinturaria
            1.3. Outras matérias subsidiárias e materiais
            1.4. Materiais de embalagem.
2. Mão-de-obra directa e encargos
3. Subcontratos
4. Amortizações e Reintegrações
5. Quebras
6. Outros gastos industriais
                    Custo industrial
7. Gastos de venda
8. Comissões pagas a terceiros
9. Encargos Financeiros
10. Gastos Gerais e Administrativos
                    Custo total
11. Lucro Liquido de Impostos
12. Impostos sobre Rendimento
                    Preço de venda a pronto
13. Descontos
                    Preço de venda a prazo

Nota:
1.1      M.P. — Ramas para os fios
                     Fios para os tecidos e malhas
                     Telas para os acabadores
2. Salários do pessoal fabril e encargos
3. Subcontratos: trabalhos executados no exterior e que fazem parte do processo de produção
4. Inclui apenas amortização e reintegração de equipamento e edifícios fabris
5.Quebras - desperdícios, contracções e defeitos
6.Outros gastos industriais - combustíveis, lubrificantes, energia, manu­tenção e reparações. Mão-de-obra indirecta. Outros fornecimentos e serviços. Outros gastos fabris
7.Gastos de Venda - Despesas com pessoal. Publicidade. Transportes. Seguros. Amortizações. Subcontratos. Outros
9.Encargos Financeiros - Juros de Financiamentos - Descontos de Títu­los. Despesas com serviços bancários
10.Gastos gerais administrativos - Todos os encargos administrativos (incluindo encargos com pessoal administrativo e com corpos gerentes e amortizações). Provisões. Outros
13.Descontos - Descontos comerciais. Indicar nas observações as condi­ções de pagamento

    O conhecimento do sector do mercado a que os tecidos se destinam, a sua caracterização cultural, etária, geográfica e económica, fornece indicati­vos essenciais para o trabalho do designer.
    Consideremos por exemplo 3 sectores de mercado muito diferentes:
— O mercado dos jovens universitários norte-americanos
— O mercado dos homens de negócios europeus
— O mercado das jovens mães e seus bebés.

    Não só a diferenciação etária é decisiva, mas também a cultural, que se traduz em diferentes cores, desenhos e tipos de tecidos para utilizações dife­rentes. Isto em termos pragmáticos mas também simbólicos. Tudo se reflec­tindo nos níveis de preço possíveis. Uma daracterização destas faixas ou sec­tores de mercado representa a realização de estudos de mercado que darão ao designer indicações precisas sobre as necessidades e desejos dos respec­tivos utilizadores, isto independentemente das previsões ou indicações das tendências da moda internacional que deverão também ser tomadas em conta, assim como a sensibilidade de cada sector à influência da moda.

   A definição da área ou sector para que se trabalha, em todos os seus parâmetros, é um trabalho essencial para o êxito do design de tecidos e con­sequente sucesso comercial.

Faz o que puderes, com aquilo que tens, onde quer que te encontres.

"Faz o que puderes, com aquilo que tens, onde quer que te encontres." -Theodore Roosevelt  + Frases

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