Na verdade trata-se principalmente de sociologia aplicada. Mas também de semiologia se tomarmos em consideração o valor de comunicação sígnifica que os têxteis sempre tiveram, desde as sociedades mais recuadas no tempo, até aos nossos dias. A função dos tecidos em todas as sociedades sempre de algum modo esteve para além das mais simples formas de revestimento do corpo ou da casa ou do desempenho de determinadas funções específicas ligadas ao trabalho ou à sobrevivência. Por outro lado, a função representativa não deve, em caso algum, ser confundida com a função estética, visto que ela não depende nem da beleza dos tecidos, nem da elegância das peças de vestuário com eles confecionadas. Interessa, sim, o modo como são usadas e a função que desempenham na sociedade em que se integram.
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segunda-feira, 22 de março de 2021
Tecido: A Função Representativa
De facto, a função representativa só pode ser considerada em estratos bem definidos duma sociedade e em culturas igualmente localizadas no espaço e no tempo. Daí que, em determinadas culturas, se encontrem usos dos tecidos e dos seus elementos “decorativos” que desempenham uma função simbólica importante.
Entre os muitos exemplos possíveis, referem-se apenas dois que têm a particularidade de serem ainda nossos contemporâneos: os tecidos timorenses e os tecidos mexicanos de origem Maia.
No caso dos tecidos de Timor, diz Ruy Cinatti no seu extraordinário estudo “Motivos artísticos timorenses e a sua integração”:
“Pergunte-se a um artífice timorense a razão de determinados motivos nos entalhes das vigas das casas de Los Palos, ou dos padrões mais evidentes da panaria de Ocussi ou, etc., nos vários sítios de Timor onde os ornamentos mais se desenvolveram. A resposta invariável é a de que já assim faziam os avós, querendo com isto dizer não existir criação individual e que ele, artífice, se limita a interpretar, segundo moldes prescritos, o pensamento imaginativo dos seus conterrâneos. Se nos detivermos sobre motivos figurativos, p. ex., um gato, ignorando o que a linguagem visual já nos indicou - o que é isto? - ser-nos-á respondido que o gato é o emblema do clã Tchailoro por ter salvo o avô dos avós em- ocasião periclitante. Se, porém, insistirmos, agora sobre os motivos geométricos, uma estrela ou uma série de triângulos dispostos ao longo de adições sucessivas de espirais duplas, a resposta do artífice poderá ser mais precisa: a estrela é uma estrela mas é, entre todas, a estrela da manhã; os triângulos em série espiralada mostram o caminho das almas, ou seja, o itinerário percorrido pelos antepassados desde o momento da morte até atingir o local de repouso definitivo. E assim por diante, numa sucessão cognitiva em que a linguagem visual se transforma em linguagem de signos e símbolos. O artífice timorense funciona como repositório e veículo de uma cultura especificamente afeiçoada ao esquema mental do grupo a que pertence. As suas imagens, sejam apenas visuais, ou simbólicas, constituem um sistema de comunicação comum aos seus pares e através do qual todos se entendem.
O resto, a melhor realização das figuras, depende do seu talento, sem que ninguém, ou ele próprio se interesse, senão por acordo imposto, muitas vezes, por opinião estranha. Daí tanto valer funcionalmente um simples esboço, como um desenho acabado. O artífice timorense é, antes de tudo, um intelectual: o modelo da criação reside na sua mente como a palavra inteligível; os toques finais serão dados quando os vagares permitirem, já que o artesanato ou a função artística se não distinguem de entre outros afazeres colectivos, como o trabalho nas hortas, ou a construção duma casa. O importante para ele, e com o consenso geral, é ter definido um sistema de comunicação. A arte sem finalidade é um conceito secundário, que só por influência estranha se avigorou, funcionando então o artista como simples artífice, o que também não o perturba por aí além.
Ë neste contexto que o estudo dos motivos e padrões timorenses terá de realizar-se, para que os estilos se definam e a visão do mundo a eles inerente ressurja definitiva. Só assim se poderá atribuir significado exacto ao que constitui memória difusa nos timorenses e impulsionar a criação futura, sem que a mesma seja considerada menor em relação a outras representações mais visualizáveis e sensíveis, como, p. ex., as da escultura. A religião dos timorenses e todas as formas simbólicas a ela associadas, indicam uma progressiva espiritualização das mentes que, sem abandonarem o culto dos espíritos e dos antepassados, o situaram em plano secundário. A crença numa divindade suprema, sem figuração, adequa-se à imagética abstracta, forçando os timorenses a uma correspondente que, só por ignorância ou deformação mental, se considera meramente decorativa. Mesmo quando tal acontece e o artífice nos diz tratar-se de “uma flor” como quem diz “enfeite”, a decoração florística prestigia quem a utiliza. De feição naturalista ou estilizada, parece querer preencher espaços não ocupados pelos padrões tradicionais: assim os elementos da cultura material europeia, utensílios de cozinha, automóveis, bicicletas, espingardas, etc., que, quando representados, parecem igualmente destinar-se a criar a ilusão daquilo que se não possui.”
Quanto aos tecidos Maias, traduz-se de “Mil anos dei tejido en Chiapas”:
“Como ver os têxteis Mayas: os desenhos modernos têm quatro formas básicas: os losangos que simbolizam o céu e a terra como uma unidade; as formas ondulantes, como cobras, que simbolizam a terra florida; as formas com três elementos verticais que simbolizam a formação do mundo, a sociedade e a sua história: e as formas de figuras como os sapos, os músicos da chuva e os santos que protegem a sociedade. No centro dos losangos há uma borboleta, símbolo do sol e centro do universo quadrado dos Mayas. O desenho rombóide pode encher o corpo do “HUIPIL” ou ser estreito verticalmente, para formar as ourelas do desenho ou ser cortado ao meio para formar um desenho horizontal.
A cobra pode ser emplumada. Mais frequentemente vai-se cobrindo de flores. Às vezes os santos coroados de glória acompanham-se de sapos para que estes cantem com graça quando os santos soltam a chuva.”
Fig. Motivos Maias notando-se as transformações verticais e horizontais do típico desenho ramboide.
Fig. Motivos Maia: Borboleta, cobra, cobra com flores, serpente emplumada, santos e sapos.
Outros exemplos poderiam ser dados de tecidos indonésios ou de tecidos africanos com função predominantemente simbólica nas respectivas culturas.
De grande importância na história do Desenho Têxtil, refira-se a ÁRVORE DA VIDA, originária da índia, motivo simbólico, cujas várias versões ainda hoje se reflectem na padronagem ocidental de moda. Mas, nas sociedades modernas ocidentais o uso simbólico ficou quase restrito à simbologia das cores e de certas formas nos cultos religiosos (p.ex. católico) mas a função presentativa tornou-se caracteristicamente laica.
É de facto na vida civil e social que essa função se valoriza, principalmente em grupos sociais que vêem no vestuário um elemento distintivo e caracterizador, como as organizações militares com as suas fardas, ou mesmo as organizações comerciais da indústria hoteleira que desejam dar uma imagem bem definida aos seus clientes. Tal utilização dos tecidos e das fardas tem no entanto uma origem medieval, período histórico em que os tipos de tecido e as peças de vestuário caracterizavam social e profissionalmente quem as usava.
Actualmente assiste-se a uma revalorização da função presentativa dos tecidos e do vestuário, não só no seu valor sumptuário para as novas elites burguesas, mas também para os seus contestatários. Um exemplo disso é a adopção internacional do “DENIN” (sarja de Nimmes) que começa por ser o fato de trabalho dos operários europeus e americanos para ser adoptado pelos movimentos contestatários de 60 e finalmente transformado em moda jovem internacional e artigo de grande consumo sob a forma de “blue jeans”.
Também a gravata, essa peça de vestuário mínima, no traje dos homens, vem a desempenhar uma função social bem caracterizada ideologicamente com a actual sociedade democrática liberal, independentemente da beleza (ou não) dos tecidos de que é feita, mas conservando o prestígio presentativo da seda natural.
A análise, ou psicanálise, da gravata e dos seus poderes na nossa sociedade é um tema rico para psico-sociólogos.
Sob o ponto de vista da criação de tecidos a função presentativa deve ser tomada em conta pelo que ela pode ser: uma condicionante das preferências do mercado para que se trabalha. Tal condicionante pode referir-se às fibras a usar (as fibras naturais têm actualmente maior valor presentativo que as artificiais ou sintéticas); as cores preteridas- (que geralmente correspondem às indicações de moda, mas que em muitos casos têm conotações locais que se devem ter em conta); o peso/m2 dos tecidos de vestuário que nas sociedades economicamente mais evoluídas é mais baixo, (sendo preferidos os tecidos leves e sedosos) e finalmente a padronagem que seguindo a moda tem por vezes significados de classe bem marcados como por exemplo os efeitos clássicos de casimira de lã para homem; a flanela cinzenta mescla, com ou sem riscas estreitas ou largas; os efeitos de príncipe de Gales; etc., etc.
Fig. As camisas e as gravatas. A gravata é desde a sua origem uma peça característica da função presentativa, como emblema da média burguesia conservadora e de certas profissões geralmente ligadas ao comercio e ao capital. Uma interpretação freudiana da gravata apresenta-a como símbolo fálico característico duma sociedade em que o poder é masculino.
Fig. Esquema do nó da gravata
Fig. Maneiras de usar a gravata nos séc. XVIII e XIX.
A divisão da padronagem em “clássica” e “de moda” que é geralmente seguida na fabricação de tecidos tem muito mais a ver com os hábitos presentativos do consumo de tecidos nas sociedades europeia e norte americana do que com a função estética.
O uso dos tecidos “clássicos” corresponde à ideologia conservadora e do poder que nessas sociedades se manifesta. Por seu lado o luxo que se associa a consumos sumptuários e excessivos está intimamente ligado à função presentativa, escolhendo materiais têxteis pelo seu valor monetário e raridade, muitas vezes associando-os ao uso ornamental de fios de ouro e prata, capazes de evidenciarem o status social de quem as usa.
Na sociedade burguesa actual, oriunda da primeira revolução industrial tanto quanto da revolução francesa, o uso sumptuário e de luxo, com valorização do supérfluo e não funcional, elegeu preferencialmente o vestuário feminino deixando para o vestuário masculino os tecidos sóbrios e “clássicos” de cores escuras (castanho, azul, cinzento e preto) dando a impressão de serem “funcionais e sérios” em relação ao papel administrativo e de “negócios” do homem burguês. Trata-se no fundo da função presentativa como símbolo de um modo de vida e cartão de visita duma ideologia.
Nos anos 60 assistiu-se a uma tentativa de reintrodução no vestuário masculino de tecidos mais imaginativos em desenho, cor e textura que de facto libertou o homem da rigidez que caracterizava o seu modo social de vestir.
A moda desportiva, o recurso às malhas e ao “casual wear” são disso sinais evidentes, uma vez mais símbolos dum bem estar social que desde então tem sofrido as suas oscilações, mas cujos valores como o prestígio da juventude, estão fundamente enraizadas no actual modo de viver.
Entretanto nas camadas mais jovens da alta burguesia, constituídas em novas elites, barómetro do neo-consumismo, revelam-se já sinais de recuperação de valores presentativos do passado no que diz respeito a tecidos e a modos de vestir. Uma simbologia contraditoriamente neo-saudosista leva esses jovens a preferir materiais não funcionais e estilos manifestamente passadistas. Ë uma manifestação de luxo e de vontade de poder.
O designer de tecidos deve ser capaz de agir como sociólogo e detectar estas subtis mudanças no gosto das elites, quaisquer que elas sejam, pois em breve elas se transformarão em tendências de moda, através da divulgação das revistas e da cada vez mais marcada atenção que a comunicação social dedica a estas matérias.
Fíg. Efeito de “príncipe de gales” em tecido de sarja de 4. Este efeito é um clássico para homem desde o começo do séc. XX mas que actualmente tem sofrido muitas adaptações e transformações como efeito de moda para senhora.
Estufa / Termofixação do Estampado
Estufa:
Para um bom resultado final é fundamental o controlo de vários parâmetros na estufa, designadamente:
• Temperatura de fixação
• Velocidade do tapete
• Tempo de fixação do estampado
• Quantidade de peças no interior da estufa
• Capacidade de ventilação! Exaustão
• Condensados/ Gases/ Vapores
• Limpeza
Termofixação, processo de fixação do estampado:
• O estampado depois de seco deve ser polimerizado durante alguns minutos a temperaturas elevadas com calor seco.
• Não é necessário efetuar lavagens.
• É nesta fase que ocorre a ligação do pigmento à fibra (o ligante reticula).
• É uma fase do processo fundamental para a obtenção de bons índices de solidez.
• Condições de fixação ideias:
• Temperatura: 150-160ºC.
• Tempo 3-5 min.
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Faz o que puderes, com aquilo que tens, onde quer que te encontres.
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