sábado, 20 de março de 2021

O Design e as Funções dos Tecidos

    A noção de design, que se refere à concepção de objectos para a produ­ção industrial, deve ser reconsiderada quando aplicada aos objectos têxteis necessitando por isso de algumas observações prévias.

    A teoria básica do DESIGN desenvolveu-se na primeira metade do século XX a partir de movimentos estéticos e sociológicos que tentavam compreender e interpretar novas circunstâncias do começo do século motivadas pela meca­nização e seriação da produção, mas também pelas novas condições da dis­tribuição e do consumo de crescente procura.
    Como um primeiro passo e no caso dos tecidos, assinale-se o trabalho de William Morris que, com alguma influência das teorias estéticas de John Ruskin, realiza a reabilitação do trabalho artesanal ao valorizar a importância dos materiais e das suas características, ao mesmo tempo que as valoriza esteticamente, através das formas naturais e do estudo das leis da composi­ção dos efeitos repetitivos usados nos tecidos.
    Morris estudou a história desses desenhos modulares desde a antigui­dade clássica até ao período gótico, quando adquiriram um significado de “representação do crescimento contínuo do universo” como ele próprio dizia.
    O recurso às formas naturais era para Morris um ponto fundamental da sua prática da dignificação das artes e ofícios (Arts and Crafts) porque “qual­quer decoração será fútil se não nos recordar de alguma coisa para além de si própria, para alguma coisa de que seja um símbolo visível.”
Embora W. Morris valorizasse o trabalho manual e não apreciasse o tra­balho feito pelas máquinas, as suas investigações e criações abriram caminho para uma valorização da produção de objectos “úteis” frente às obras até então consideradas de “arte”, tendo em conta as necessidades estéticas duma nova sociedade industrial que começava a identificar-se. Assim William Morris desenha tecidos e papéis de parede com motivos florais, sendo um antecessor directo do moderno desenho industrial, na era do romantismo da máquina.
    Durante o século XIX a ideia de uma arte industrial foi-se consolidando através das obras de arquitectos e engenheiros que trabalhavam o ferro, apli­cado em grandes obras, como pontos e edifícios públicos, de que Eiffel com a sua Torre em Paris é um exemplo paradigmático.
Mas é já no fim do século XIX e começo do XX que movimentos como a ART NOUVEAU (Henry van de Velde—1863-1956) nascido em Bruxelas e com movimentos análogos na Alemanha (Jugendstil), Áustria (Sucession), Itália (Liberty) e noutros países como por exemplo entre nós com Bordalo Pinheiro e o seu trabalho em azulejos, que o desenho repetitivo com caracte­rísticas industriais começa a ganhar expressão.
    Movimentos como o Futurismo italiano e o Construtivismo russo adqui­rem hoje um significado de contribuições decisivas na criação duma estética moderna, na qual o design virá a desempenhar um papel de intervenção nos ambientes e maneira de viver de muitas centenas de milhões de pessoas durante todo o século XX, e a partir da Europa e da América do Norte, atingir significado universal.
Mas é com a BAUHAUS (1919-1933) de Walter Grapius que a noção de design se desenvolve, principalmente ligada à produção de objectos para interior em diversos materiais e à arquitectura.

    Sobre a Bauhaus, diz Guio Dorfles:
    «De 1920 a 1925, a Bauhaus prosseguiu as suas actividades em Weimar e, a partir de 1925 até 1928, transferiu-se para Dessau, sempre dirigida por Gro­pius que, no último ano citado, dadas as dificuldades resultantes da tensa situação política criada pelo nazismo, abandonou a Alemanha, deixando a direcção da escola a Hannes Mayer. Na escola colaboraram algumas das per­sonalidades artísticas mais relevantes da época, como Klee, Kandinsky, Fei­ninger, Moholy-Nagy, Mies van der Rohe, Albers, Vordemberge-Gildewarl e os então muito jovens Max Bill, Gyorgy Kepes e Breuer.

O Design e as Funções dos Tecidos
Fig. Quatro padrões estampados de William Morris


    Não é difícil pôr hoje objecções aos métodos didácticos da Bauhaus e limitar o alcance do ensino por ela ministrado. Com efeito, é sabido que uma determinada orientação “artesanal” prevalecia ainda sobre os métodos deci­didamente científicos que mais tarde iriam ser adoptados. Porém, não se deve esquecer a época em que a escola foi formada, quando vigorava ainda uma visão “esteticizante” do objecto industrial e da arquitectura. De qualquer maneira, não há dúvida de que sem a Bauhaus dificilmente se teria desenvol­vido com tanta rapidez uma clara consciência dos novos requisitos a que deveria submeter-se a evolução da moderna arquitectura e do design. Quanto à perspectiva sociológica dada por Gropius ao seu ensino, e que actualmente remos de considerar um tanto utópica, importa assinalar que constitui uma primeira ruptura com os esquemas sociais oitocentistas efectivamente ana­crónicos. Com efeito, Gropius procurava criar uma arte capaz de alcançar com o mínimo custo, o mais alto nível artístico, ao mesmo tempo que visava criar objectos destinados a todas as camadas sociais e não reservados a algumas elites. Além disso, acreditava que aliando o ensino artesanal ao industrial e artístico,  se poderia formar o artista completo capaz de dominar todos os sectores da produção. Sabemos hoje que esse ideal “humanista” é quase inconcebível, sabemos que fazem falta outras bases de carácter cien­tífico, linguístico, psicológico e filosófico, que permitam alcançar uma clara visão do problema, embora não possamos ignorar a eficácia da doutrina de Gropius, não só na Europa mas também nos Estados Unidos, onde a sua influência foi decisiva.»
   No entanto é significativo recuperar esta observação de Sócrates em XENOFONTE: (Os Memoráveis)
    “Todas as coisas que servem aos homens são ao mesmo tempo belas e boas na medida em que servirem bem para o seu uso.
    — Um cesto é belo?
    —Sim, se bem adaptado ao seu fim, tal como um broche de ouro é feio se não se adaptar ao seu.”
    Assim se põe em destaque a integração entre a função pragmática e a função estética dos objectos, independentemente dos seus materiais.
     Essa interdependência, que é estrutural na noção de design, deve ser completada com as condições de produção industrial racionalizadas e norma­lizadas, a produtividade e as condições de comercialização.
    Uma noção de design actual integra, necessariamente, os condicionalis­mos do marketing, como ciência do mercado.

O Design e as Funções dos Tecidos

Fig. Tecidos de Bauhaus

    No caso têxtil, o design só começou a ser entendido como um indispen­sável instrumento na concepção dos tecidos a partir dos anos 60, com o aper­feiçoamento das linhas de fabricação têxtil e o começo da automação e informatização aplicadas à produção de tecidos. Mesmo os tecidos da Bau­haus, nos anos 20, não ultrapassaram muito o nível das artes decorativas e da produção artesanal, mais ou menos mecanizada.
    Deve observar-se que o Design, na sua acepção mais rigorosa, se dedica a produzir protótipos que depois deverão ser policopiados rigorosamente através das linhas de produção em série.
    Tal conceito deve, no caso dos têxteis, ser reinterpretado.
    No design de tecidos o protótipo será a primeira amostra acabada ou a primeira metragem de tecido produzida.
    Tal porção de tecido - a que se chama amostra, tem a função de consti­tuir um padrão do respectivo tecido e pode ser usada também para a recolha de encomendas junto dos clientes. Posteriormente, as peças de tecido, com comprimentos que podem exceder os 100 metros, serão fabricadas segundo as especificações técnicas contidas na ficha de projecto do artigo.
    O controlo de qualidade assegurará o não desvio significativo dessas especificações, durante a produção industrial.
    Não é mais admissível a noção de desenho têxtil como mera decoração, onde por pintura, bordado ou estampagem se implanta um efeito estético numa base lisa (o tecido) que nada tem a ver com ele.
    O tecido é de facto um objecto tridimensional, laminar, em que a espes­sura é diminuta, mas em que ambos os lados (o direito e o avesso) são indis­sociáveis das propriedades e características do todo, quer elas sejam físicas e funcionais, estéticas ou simbólicas.
    O design têxtil, considera o tecido no seu todo físico - como objecto - e nas multiplicidades das suas funções.
    O desenho não é uma cosmética, mas sim uma parte do design têxtil, em íntima relação com a finalidade do tecido, a sua estrutura, as matérias-primas e meios de produção.
    Actualmente o design têxtil impõe-se como disciplina e metodologia para a concepção de tecidos, tanto para a sustentação de linhas de fabricação massiva de tecidos de baixo preço, como para a produção da inovação perió­dica que os artigos de moda impõem, como para a concepção de novos teci­dos com o emprego das novas fibras sintéticas desenvolvidas na segunda metade do século XX.
    As três funções dos objectos surgem, numa concepção de design, indissocia­velmente ligadas em qualquer tipo têxtil, apenas variando a ênfase que se colocará em cada uma delas, consoante o artigo que se considerar.
    De facto em todos os artigos têxteis coexistem as funções estética, pragmática e presentativa. Mas, por exemplo, numa rede de pesca predomina exclusivamente a função pragmática; num brocado de seda natural predomi­nam a função estética e presentativa; numa farda de porteiro de hotel predo­mina a função presentativa; numa malha de nylon estampada predomina a função estética, mas nenhuma das outras está ausente. Num tecido de gabardina predomina a função pragmática (protecção da chuva) mas, uma vez mais, a estética e a presentatividade social não estão ausentes.
                  
O Design e as Funções dos Tecidos
                   
    Integrar-se-ão estas três funções num triângulo que se poderá transfor­mar num tetraedro com a integração da dimensão comercial concebida como marketing.
O Design e as Funções dos Tecidos

    De um ponto de vista de design, e sem hierarquizar estas funções, poderse-á considerar que a concepção dos tecidos se poderá fazer de cada um destes pontos de vista, consoante o artigo que se desejar produzir.
     No entanto, antes de entrarmos na elaboração técnica dos projectos de tecidos segundo a análise das suas funções é necessário estudar o desenvol­vimento e as transformações conceptuais, históricas e culturais que sofreram e que determinam a actividade e a criatividade possível do actual designer têxtil.

O Design e as Funções dos Tecidos
Fig. Fragmento de tecido dos três reis magos de Colómbia que foi tecido na Siria no Séc. II.

Nota-se distintivamente o desenho em adamascado formado por sarjas pesadas e leves.

Historia do Tecido


    Se olharmos à nossa volta veremos que estamos rodeados de objectos das mais variadas formas, de diversos materiais e cores, com as mais diferen­tes funções. Mas nessa diversidade, fácil nos será identificar um grupo que, embora disperso, se apresenta com algumas características comuns: são os objectos têxteis, mais vulgarmente conhecidos por TECIDOS. Esses tecidos apresentam-se com as mais diversas formas, cores e desenhos, e desempe­nham funções também muito diferenciadas. Mas ao pensarmos em tecidos imediatamente o vestuário e a roupa de casa que nos vem à mente.
    Como característica comum, os tecidos são todos feitos a partir de fibras têxteis, através de métodos de cruzamento e entrelaçamento a que generica­mente se chama tecelagem.
    O utilizador dos tecidos vulgarmente não se apercebe do complicado processo pelo qual o pêlo dos carneiros, ou o fruto branco do algodoeiro, ou os casulos do bicho da seda, ou os caules da planta do linho, se transformam nos tecidos de que são feitas as maravilhosas peças de vestuário que compra nas mais sofisticadas lojas de moda, ou nas casas de pronto-a-vestir. E cer­tamente será para ele um pouco obscura a produção das novas fibras sintéticas.
    É realmente no produto final que ele está interessado, nas suas caracte­rísticas estéticas e funcionais como objecto de que necessita para a sua vida diária.
    Mas o conhecimento das matérias-primas de que se fazem os tecidos — as fibras têxteis — e do processo da sua concepção e produção podem e devem hoje ser considerados como um facto cultural que a todos interessa visto que esse conhecimento contribui para uma melhor escolha dos tecidos ou objectos têxteis a adquirir, e para que a sua utilização seja mais correcta e vantajosa para nós próprios.
    Do ponto de vista do consumidor o conhecimento das propriedades dos tecidos que compra é um factor decisivo na sua auto-defesa.
    Do ponto de vista do produtor o domínio perfeito das tecnologias de concepção e fabricação têxteis é essencial para que a sua actividade seja estável e próspera.
    A concepção de um tecido é assim um acto complexo em que estão envolvidos tanto o ponto de vista do produtor como o do consumidor.
    O produtor tentando produzir o melhor produto ao mais baixo custo pos­sível o que lhe assegurará maior margem de lucro. O consumidor tentando por seu lado comprar ao mais baixo preço o objecto têxtil de que necessita ou que fortemente deseja.
    Mas este simplismo “mercantil” nem sempre se aplica, visto que as fun­ções sumptuárias, a moda, ou o desejo que os têxteis despertam, o uso sim­bólico e os interesses dos fortes grupos económicos e industriais, alteram a lógica dessas relações. A necessidade e o preço nem sempre são os factores decisivos da compra. Outros factores devem ser tomados em consideração por quem produz e primeiramente por quem concebe os tecidos e as peças de vestuário. Esse “quem concebe” tem hoje o nome de designer têxtil sendo as suas funções objecto de cuidadosa definição nas sociedades modernas mais evoluídas.
    Mas nem sempre assim foi, podendo dizer-se que o actual designer têxtil é um produto típico da economia finissecular, no período de transição entre o fim da era resultante da primeira revolução industrial e o começo da “terceira onda”, como lhe chamou Alvin Toffler, com o desenvolvimento da sociedade informática e robotizada, mas época também extremamente instável e aberta, em termos de gosto e preferências.
    Parece oportuno desenvolver um pouco mais este assunto, visto que ele é crucial para o entendimento da matéria que neste livro se estuda: a proble­mática da concepção dos tecidos que todos usamos.
    Há pois três aspectos a considerar preliminarmente: a periodização histó­rica que mais se adapta ao entendimento da função de conceber tecidos neste fim de século; o conhecimento de que nem sempre foi assim, e porquê; finalmente uma discussão sobre a noção de design e de designer que mais se adapta às circunstâncias actuais e talvez de um próximo futuro.
    Dividir o tempo histórico (desde o começo do uso da escrita) em vários períodos ou épocas, segundo acontecimentos e datas consideradas significa­tivas, é uma prática comum dos historiadores, com o objectivo de melhor compreender as circunstâncias da vida dos homens e o modo como ela se tem transformado ao longo do tempo.
  Tanto se pode fazer uma periodização fina, em períodos curtos, como uma periodização larga, dependendo do objectivo do estudo que realizamos.
No caso da produção têxtil julgo ser de flagrante pertinência a periodiza­ção larga proposta por Alvin       Toffler no seu livro “A Terceira Onda”. Segundo este autor a primeira onda de mudança foi desencadeada há mais ou menos dez mil anos pela descoberta da agricultura: a segunda onda resultou da chamada revolução industrial, no século XVIII da nossa era; a terceira onda está já visível no mundo novo em que estamos vivendo e em que a informação, a electrónica, a cibernética e a robótica começam a transformar as rela­ções entre os homens e as máquinas e, consequentemente, alterando os métodos de trabalho, as relações de produção e as condições de uso social dos produtos, a sua necessidade e as suas motivações estéticas e emocionais ou psicológicas.
    Tal periodicidade larga convém ao estudo do fenómeno têxtil, justamente porque os produtos têxteis desempenharam um papel decisivo no desenca­dear, tanto da primeira como da segunda ondas de energia civillizacional e os seus respectivos meios de produção estão a elas estruturalmente ligados.
    De facto os primeiros (mais antigos) indícios de objectos têxteis podam ser datados de há mais ou menos dez mil anos, coincidindo com a sedentariza­ção agrícola dos primeiros homens, muito antes da invenção da escrita e do início dos tempos ditos, por isso, históricos.
    Tempos esses que poderão ser datados entre meados do terceiro e o segundo milénios antes de Cristo, com a escrita Sumero-Acádica na Mesopo­tâmia e a escrita ideográfica na China, já posteriores às escritas simples­mente de registo ou mnemónicas. Os mais antigos têxteis foram encontrados nas civilizações lacustres da Suíça, na Mesopotâmia, na Cordilheira dos Andes e nos gelos do norte da Escandinávia (restos de um tecido de lã, de há mais de 9000 anos antes de Cristo). Mas também existem indícios têxteis em grutas da Península Ibérica. Sendo frágeis e facilmente putrescíveis não há de facto abundância de objectos têxteis pré-históricos, encontrando-se representações em pedra e pinturas rupestres de homens e mulheres vestidos com peças têxteis facilmente identificáveis.
    Durante toda a antiguidade a concepção e produção de tecidos estariam certamente confundidos, pois quem conhecia a arte de tecer era também o criador do tecido. As várias formas que o tear foi adquirindo, desde o “primi­tivo” (mas já sofisticado) tear de chão egípcio, até ao tear de liceta chinês para as mais elaboradas sedas, essas várias formas e soluções mecânicas foram certamente encontradas pelos tecelões que iam aperfeiçoando os teci­dos e descobrindo novas formas de os produzir, num sistema integrado de causa e efeito, ou de experiência e erro, intuitivos, mas em que é difícil dis­cernir se era o tear que motivava o novo tecido ou se era uma ideia diferente de tecido que originava a modificação do tear. Uma coisa parece certa: só quem tece é capaz de fazer tecidos e ir modificando os instrumentos da sua produção. O mesmo se poderá dizer em relação ao cruzamento dos fios, hoje chamado DEBUXO, que se desenvolveu de uma forma obscura, a partir das primeiras entrelaçamentos manuais de elementos vegetais ou de tiras de peles de animais. Seja como for, os egípcios, 2500 anos antes de Cristo, conheciam a arte de fiar com perfeição e teciam tafetá e sarja.
    Esta forma sincrética, isto é, total e original de conceber os tecidos e de, ao mesmo tempo, realizá-los, prolonga-se durante a Idade Média e vem até aos nossos dias nos resíduos das civilizações pré-hispânicas na América Central, em África, prolongando-se no ressurgimento dum artesanato urbano europeu, ocorrido nas últimas décadas.
    Nestes casos há perfeita coincidência entre quem cria e quem executa (tece) o tecido.
    Um caso ligeiramente diferente ocorre com os tapetes persas e turcos, assim como no Norte de África muçulmano, em que os desenhos passam de geração em geração por via oral, de tecedeira para tecedeira e desde a mais tenra idade. As modificações dos desenhos ou suas interpretações só em cer­tos casos são admissíveis.
Historia do Tecido

Fig.  Estátua menhir, feminina, do período neolítico, de costas e de frente, mostrando o vestuário


Historia do Tecido

Fig. Peças de vestuário da Idade do Bronze encontradas num túmulo. Nota-se claramente o tecido de teia e trama.

    No entanto, na Europa, as tapeçarias Góticas e Renascentistas são já executadas por tecedores a partir de desenhos (cartões) criados por pintores que pouco ou nada sabem de tecelagem.
    Por outro lado a necessidade comercial de imitar os tecidos vindos do oriente pela rota da seda, leva os pintores italianos a estudarem os métodos da produção têxtil e a realizarem os primeiros desenhos têxteis no sentido moderno do termo. Leonardo da Vinci desenha mesmo um aperfeiçoamento da roda de fiar, em 1500, revelando assim o interesse que os têxteis desperta­vam nessa época. Época em que se dão os primeiros passos para a divisão analítica da produção têxtil, entre quem inventa ou aperfeiçoa os mecanismos de produção, quem cria os desenhos e quem executa os tecidos, servindo-se daqueles mecanismos.
Historia do Tecido
Fig. Fiação e tecelagem egípcias

     É assim que, aos poucos, se dá a transformação do tear de licetas (oriundo da China) no tear Jacquard em pleno Séc. XVIII em França, e se inventa a lançadeira voadora, na Inglaterra, em 1733.
    Entretanto a produção vai aumentando e uma nova classe social se cons­titui: a classe operária que executa apenas as funções produtivas e se estru­tura durante a segunda vaga: a da revolução industrial.
    Revolução industrial que tratá a pouco e pouco a mecanização das ope­rações de produção, cuja primeira consequência é a concentração em “fábri­cas” (ditas engenhos ou moinhos “MILLS”) para a fiação do algodão e poste­riormente da lã. Seguir-se-á a organização de fábricas de tecelagem com um elevado número de teares, accionados por meios energéticos centrais: a roda de água primeiro, a máquina a vapor depois, e a electricidade finalmente.
    Essa concentração da produção levará à organização racional do traba­lho com a divisão analítica das operações de fabricação e com a consequente necessidade de padronização e normalização dos mecanismos, dos procedi­mentos e dos materiais. Todos estes fenómenos visando o aumento da pro­dução por unidade de tempo e por trabalhador, com o objectivo de baixar o custo de produção através de economias de escala, permitindo aumentar os lucros globais das empresas, mas também diminuindo o preço unitário de venda ao público.

Historia do Tecido 
Fig. Tear de sedas chinês

    Tais condições de produção levaram a uma separação entre quem con­cebe os tecidos e quem os tece, criando-se a figura do DEBUXADOR, técnico que é responsável pela concepção dos tecidos que serão fabricados, organi­zando os seus projectos de acordo com as tendências do mercado e com as possibilidades técnicas de fabricação de que dispõe, tendo em conta também os condicionantes económicos da empresa e do mercado, respectivamente em termos de custo de produção e preço de venda. Mas, a própria figura do Debuxador sofrerá operações analíticas nas grandes empresas, dividindo-se as suas funções nas suas componentes técnica, estética e comercial, que poderão ser desempenhadas por pessoas ou equipas diferentes, sob a orien­tação dum chefe de departamento que pode desempenhar apenas funções de coordenação.
    Nas empresas mais pequenas o Debuxador concentra em si próprio as funções de concepção, mas não se desliga totalmente do controlo da produ­ção em termos de qualidade, nem da comercialização.        Nessas fábricas de menores dimensões, o produto é altamente qualificado e personalizado e destina-se a um comércio exigente, em que a Moda e os factores estéticos dos tecidos são determinantes, assim como as circunstâncias de relações públicas da comercialização. Já, nas empresas de grandes dimensões, o debuxador se reduz a ser um elo mais na cadeia de produção, a que corres­pondem funções bem delimitadas, muitas vezes já não de concepção global dos tecidos, mas apenas de propostas de alterações estéticas.


Historia do Tecido

Fig.  Tear contemporâneo com inserção de trama por pinças telescópicas.

     Estas são as condições, consideradas nos seus extremos, do trabalho de conceber tecidos nas fábricas da “segunda onda” (que são as que ainda exis­tem entre nós), havendo várias possibilidades de maior ou menor personali­zação, ou maior ou menor integração, conforme as dimensões, a empresa, o tipo de tecido fabricado e os mercados a que se destina.
   Mas, desde os anos 60, estes condicionantes tendem a modificar-se, pre­cisamente pela informatização e automação dos métodos de produção e, até, de concepção dos tecidos, identificando-se cada vez mais o Debuxador com a imagem do designer, podendo a produção e o seu controlo, ser altamente automatizados e, nalguns casos, até robotizados, em parte ou no todo (como em breve certamente será).
   A função do designer têxtil está, por isso, a ganhar terreno, à medida que se instala a economia produtiva da “terceira onda” ou seja, as condições de produção e consumo do século XXI, em que duas tendências se perfilam já: a robotização da produção dos bens para consumo massivo e a informatização personalizada dos bens selectivos, de uso qualitativo e representativo.
    No caso dos tecidos, é necessário pôr a questão claramente: - Numa fábrica robotizada para fabricar tafetá com ligeiras variações de desenho (liso, riscas, ou xadrez até) o trabalho do debuxador é menos significativo que numa fábrica de tecidos de alta moda, para casacos ou vestidos de senhora ou fatos de homem.
   Os meios informáticos permitem reintegrar as funções do debuxador na figura do designer. Este, equipado com meios computorizados de simulação dos tecidos (para mais eficaz elaboração dos padrões e suas variações), com meios de comunicação cibernéticos e informáticos, para a obtenção dos requisitos do mercado e das previsões da MODA, poderá trabalhar em pequenos gabinetes, de preferência não incluídos na organização vertical das unidades de produção, para maior liberdade de movimentos, de coordenação da informação exterior e de consequente colagem às variantes do mercado.
   Nestes gabinetes de design de tecidos, as operações de concepção, tomarão em conta todos os componentes da produção e utilização dos teci­dos, desde os aspectos tecnológicos às funções que os tecidos irão desem­penhar durante a sua vida de uso. Funções essas que vão muito para além da sua utilidade “funcional” imediata, integrando-se num todo pragmático­ – astético – presentativo, a que a relação qualidade – preço dará significado perante o potencial comprador e utilizador.
    A tendência da concepção e produção têxtil na terceira vaga, está por­tanto na passagem de “mão-de-obra intensiva” para “capital - intensivo” com a respectiva desconcentrarão da mão-de-obra necessária nos locais de produ­ção, sendo as funções de planeamento e concepção não necessariamente realizadas pelas unidades de produção, mas sim por gabinetes de design para isso equipados e especializados e conectados com as empresas informaticamente.

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Debuxo: Efeitos de Cor

    O estudo da cor e a sua aplicação aos tecidos é de grande importância, uma vez que o êxito do tecido não depende somente da estrutura e das matérias-primas utilizadas, mas, em grande parte, da cor. Ë importante ter-se em conta se o debuxo é leve, neutro ou pesado, pois disso depende a maior predominância do esquema de cor da teia ou da trama. A título exemplificativo pode referir-se que num debuxo neutro com a trama de uma só cor e um esquema de cor à teia, o tecido resultante aparecerá com um efeito de riscas à teia, podendo modificar-se todas as cores de acordo com a cor de trama utilizada.
    Assim, se a trama for branca o esquema de cor fica todo mais claro e se a trama for escura, o esquema de cor fica mais escuro. A trama pode, deste modo, ser um elemento harmonizador das cores da teia.
    O efeito de xadrez pode ser obtido se se optar por um esquema de cor à teia e outro à trama.
    Os EFEITOS DE COR aparecem no tecido como consequência da com­binação de um debuxo com uma ordem de cor à teia e à trama numa dada posição.
    O método normalmente utilizado para a construção do efeito de cor no papel de debuxo é o seguinte:
    1 — Desenvolve-se o debuxo base;
    2— Coloca-se a ordem de cor da teia por baixo do debuxo;
    3— Coloca-se a ordem de cor da trama do lado esquerdo do debuxo;
    4— Pintam-se todos os picas com as cores da teia correspondentes;
    5— Pintam-se todos os deixas com as cores de trama respectivas.

    As ordens de cor podem classificar-se da seguinte forma:
    1 —Teia e trama simples;
    2—Teia composta e trama simples;
    3—Teia simples e trama composta;
    4—Teia e trama compostas.
    A ordem de cor da teia ou da trama é simples se não houver alteração da sequência da ordem de cor; é composta se a ordem de cor à teia ou à trama é formada por duas ou mais ordens de cor simples.
Para cada ordem de cor, pode utilizar-se um debuxo simples, de riscas ou xadrez. O quadro 1 é indicativo dos padrões que se podem produzir pela combinação do debuxo com as ordens de cor à teia e à trama.
Quadro 1
Padrões de Tecidos
ORDEM DE COR
DEBUXO SIMPLES
DEBUXO DE RISCAS VERTICAIS
DEBUXO
XADREZ
TEIA
TRAMA
SIMPLES
SIMPLES
Padrão Simples
Padrão de Riscas
Padrão Xadrez
COMPOSTA
SIMPLES
Padrão de Riscas Verticais
Padrão Riscas
Padrão Xadrez
SIMPLES
COMPOSTA
Padrão de Riscas Horizontais
Padrão Xadrez
Padrão Xadrez
COMPOSTA
COMPOSTA
Padrão Xadrez
Padrão Xadrez
Padrão Xadrez


    Podem obter-se padrões diferentes com o MESMO DEBUXO E A MESMA ORDEM DE COR, desde que as suas posições relativas sejam modificadas.
    Alguns exemplos de efeitos de riscas verticais com DEBUXO SIMPLES, TEIA COMPOSTA E TRAMA SIMPLES encontram-se ilustrados nas Figs.
    Exemplos de efeitos de riscas verticais obtidos com DEBUXO DE RIS­CAS (existe oposição numa dada direcção), TEIA e TRAMA SIMPLES são apresentados nas Figs..
    Existem dois métodos fundamentais de produzir efeitos de XADREZ em tecidos:
    1 — a- xadrez obtido por debuxo;
    2 — xadrez obtido pela aplicação de ordens de cor compostas à teia e à trama, sendo a estrutura do tecido um debuxo simples.
Debuxo: Efeitos de Cor


Fig.2.35 Efeitos com o mesmo debuxo e ordem de cor


Debuxo: Efeitos de Cor

Fig.2.35 Efeitos com o mesmo debuxo e ordem de cor


Debuxo: Efeitos de Cor

Ordem de cor à trama diferente
Fig. 2.36 Efeito de riscas verticais

Debuxo: Efeitos de Cor
Ordem de cor à teia diferente


Debuxo: Efeitos de Cor

debuxo de Sarja batávia de 4
Fig.2.36 Efeito de Riscas Verticais


Debuxo: Efeitos de Cor

Fig.2.36A Efeito de riscas verticais

Debuxo: Efeitos de Cor
combinação de cetim de 5 leve com cetim de 5 pesado
Fig.2.37 Efeito de Riscas verticais com debuxo de riscas

Debuxo: Efeitos de Cor

Combinação de Sarja com ampliado do tafetá à teia

Debuxo: Efeitos de Cor

Combinação de Sarja com ampliado do tafetá à teia
Fig.2.37 Efeito de Riscas verticais com debuxo de riscas

Debuxo: Efeitos de Cor

Fig.2.37A Efeitos de riscas verticais com debuxo de riscas 

Debuxo: Efeitos de Cor

Fig.2.38 Debuxo de xadrez, teia e trama simples


    No primeiro caso combinam-se diferentes debuxos com oposição à teia e à trama como ilustrado nas Figs. – DEBUXO XADREZ TEIA E TRAMA SIMPLES.

Debuxo: Efeitos de Cor

Fig. 2.38A Debuxo de xadrez, teia e trama simples

Debuxo: Efeitos de Cor

Fig. 2.39 Debuxo de xadrez, teia e trama simples
  
Debuxo: Efeitos de Cor

Fig. 2.40  Debuxo simples, teia e trama compostas

    Alguns Exemplos de padrões de xadrez em que se utiliza Debuxo Simples, Teia e Trama compostas encontram-se ilustrados nas Figs..

Debuxo: Efeitos de Cor

Fig. 2.40A Debuxo xadrez, teia e trama simples


Debuxo: Efeitos de Cor
Fig. 2.41  Debuxo simples, teia e trama compostas
  

Debuxo: Efeitos de Cor

Fig. 2.42  Debuxo simples, teia e trama compostas

    Nas Figs.são apresentados exemplos de xadrez obtidos com DEBUXO DE RISCAS. No primeiro caso a TEIA é SIMPLES e a TRAMA COMPOSTA enquanto que no segundo, tanto a TEIA como a TRAMA são COMPOSTAS.

Debuxo: Efeitos de Cor

Fig.2.43  Debuxo simples, teia e trama compostas
  
Debuxo: Efeitos de Cor
Fig. 2.43  Debuxo simples, teia e trama compostas


Debuxo: Efeitos de Cor

A – Príncipe de Gales
Fig.2.45 Debuxo simples, teia e trama compostas


Debuxo: Efeitos de Cor

B – Xadrez
  
Debuxo: Efeitos de Cor

C – Pied Poule
Fig.2.45 Debuxo simples, tela e trama compostas (comt.)

 

Faz o que puderes, com aquilo que tens, onde quer que te encontres.

"Faz o que puderes, com aquilo que tens, onde quer que te encontres." -Theodore Roosevelt  + Frases

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