domingo, 21 de março de 2021

Tecido: A Moda

     Sob o ponto de vista da Moda o tecido deve ser considerado como uma matéria-prima, visto que ele é o seu mais importante elemento construtivo integrado no projecto de Design de Moda em consideração.

    Fibras têxteis, tecidos, modelos e cores são assim os instrumentos da moda, já que é através da variação periódica das suas características que se realiza a renovação estética e funcional dos objectos do consumo têxtil a que se chama moda.

Tecido: A Moda

Fig.- Padrão repetitivo de Adelaide Borges para algodão ou malha estampada.
Padrão de Clara Afonso (unidade) para lenço de seda estampado.
  
Tecido: A Moda 
Fig. Padrões de Beatriz Martins e Júlia Vareda para seda estampada.

Tecido: A Moda

Fig. Padrões de Catarina Silves Gonçalves e Teresa Cortez respectivamente para pano de praia em algodão ou seda para vestido de senhoras em seda estampada.


    A moda será assim o conjunto de acções que conduz à renovação perió­dica dos objectos de consumo, neste caso objectos têxteis, predominantemente destinados ao vestuário. A maior importância da moda neste sector têxtil resulta directamente dos factores estéticos e presentativos que são pre­dominantes no vestuário e, mesmo nos têxteis para casa, a que não são alheias algumas coordenadas psicológicas, quer individuais quer colectivas, dos consumidores. Mas, na moda reflectem-se também factores económicos, sociológicos e até técnicos, não se devendo esquecer que a renovação sazo­nal do vestuário mantém o ritmo da produção da indústria têxtil. Por seu lado, a inovação tecnológica é um factor decisivo na inovação e, por isso, na moda. Mas também os factores económicos, como por exemplo uma época de crise, poderão determinar limitações às características estéticas e funcionais dos materiais utilizados na confecção de determinados modelos, que serão ven­didos como moda. A moda é assim um fenómeno complexo que reflecte as condições gerais da concepção, produção, venda e consumo dos objectos têxteis.
    Mas a moda, como elemento indispensável no ciclo da produção e con­sumo dos têxteis, não nasce feita. Alguém tem de decidir o que se vai usar num determinado ano e numa dada estação. Essa decisão é feita em termos de MATERIAIS, MODELOS e CORES em gabinetes internacionais especiali­zados geralmente instalados nas chamadas capitais da moda. Nesses gabine­tes onde trabalham equipas de desenhadores, estilistas e modelistas se determina com maior ou menor margem de erro e geralmente com 2 anos de antecedência a moda que será difundida para todo o mundo nas datas pre­viamente estabelecidas e mais convenientes. A difusão com a devida antece­dência das informações de moda é feita através de feiras de amostras para profissionais e posteriormente em salões especializados. Os gabinetes de previsão da moda emitem também colecções de cores de padrões e de mode­los que podem ser comprados pelos fabricantes especializados através de assinaturas. O ciclo de antecipação dessas informações especializadas é de dois anos em relação à estação de uso da respectiva moda.
    As informações da moda que são emitidas pelos gabinetes especializa­dos resultam evidentemente de um conhecimento profundo tanto do desenho têxtil como da tecnologia da produção têxtil. Mas o conhecimento da evolu­ção estética e sociológica do vestuário nos anos recentes é também necessá­rio, tal como o domínio das características do fenómeno moda. Ë tomando todos estes factores em consideração que se podem arriscar numa base probabilística as previsões de moda com os já referidos dois anos de antecedên­cia e se no início desses dois anos as indicações começam por ser às vezes um tanto vagas, elas vão-se concretizando à medida que o tempo vai pas­sando e que os ciclos da produção vão avançando até que na altura própria as indicações de moda aparecem formuladas já com grande precisão.

    De um modo geral devem ser observadas as seguintes características do fenómeno moda:

    a) É sazonal e transitória mas durante os 6 meses em que vigora (Outono! !Inverno ou Primavera/Verão) os seus valores são imperativos e absolutos: usam-se estas cores e os modelos são deste modo e não de outro, com estes materiais.

    b) É repetitiva mas transformadora. Geralmente as novidades de uma estação são a transformação de características formais de modas anteriores já praticamente esquecidas. Pode até estabelecer-se um ciclo de repetição que varia entre os 5 e 7 anos conforme a aceleração dos circuitos de distri­buição e venda.         No que diz respeito aos padrões ou desenhos dos tecidos para vestuário pode até observar-se o seguinte ciclo de transformação que se repete ao longo dos anos com ligeiras variações: aos tecidos lisos seguem-se os padrões com riscas estreitas; a estas seguem-se as riscas largas; depois vêm os efeitos de xadrez grande a que se seguem os efeitos de xadrez pequeno. O ciclo fecha-se com tecidos de cor única ou em mescla, podendo ou não dar-se o aparecimento de borbotos de várias cores.
    Também em termos de cor se poderão detectar épocas de contrastes violentos de cores vivas a que se seguem épocas de harmonias ou de cores suaves tipo pastel a que se poderá seguir um período de contraste preto e branco. O uso de cores unidas em efeitos tonais monocromáticos (por exemplo azul claro e azul escuro) podem constituir períodos de repouso. Mas na cor a previsibilidade é menos rigorosa dado o elevadíssimo número de cores, de tonalidades e de combinações possíveis. Geralmente as recomendações de cor começam por ter um número elevado (30 ou 40 cores) número este que vai sendo reduzido até se resumir a uma dúzia ou ainda menos na altura decisiva da fabricação. Na altura da comunicação da moda ao público com­prador ainda esse número deverá ser reduzido para evitar dispersões. Mas isso depende muito do artigo, do mercado e da qualidade a que a moda se refere.
    Os revivalismos estilísticos das modas das várias décadas do início deste século (anos 20, 30 ou 40) é uma manifestação do aspecto repetitivo mas transformador da moda. Os modelos actuais nunca são iguais aos que lhe serviram de inspiração estando adaptados às exigências da vida actual e também dos modernos processos de fabrico.

    c) A moda é uma manifestação colectiva mas satisfaz os gostos indivi­duais. Este é um aparente paradoxo que a psicologia poderá tentar explicar. Mas não há dúvida que andar ou sentir-se à moda dá uma sensação de satis­fação individual embora cada um saiba muito bem que a moda é uma orien­tação do gosto colectivo e que ao seguir as suas ordens estamos a ser tele­comandados tal como todos os outros cidadãos do mesmo país ou área cultural. Resta-nos no entanto a possibilidade de não acatar essas ordens e não seguir a moda, o que inevitavelmente nos marcará com um grau maior ou menor de marginalização. Essa marginalização pode no entanto ser ainda valorizada criando-se a anti-moda que apesar de tudo deve ser sociologica­mente encarada como fazendo parte do fenómeno geral da moda.
    Mas a moda pode ter valores desiguais para diferentes estratos económi­cos de uma população. Assim para o chamado “terço superior do mercado” (com forte poder de compra) em que os valores presentativos do vestuário são dominantes, a moda tem carácter absoluto. Para o “terço médio do mer­cado” (com poder de compra médio) a mola tem uma importância variável, podendo servir mais como orientadora estética que como ditadora do que se usa. A crítica da moda pode ser até um factor positivo de com ela coabitar. Para o “terço inferior do mercado” (de baixo poder de compra) a moda não existe, ou só muito tardiamente recebe algumas influências suas. Os factores funcionais e económicos são os que predominam na aquisição do vestuário.
    Mas outros factores influenciam a importância social da moda, tais como as leis de continuidade e de renovação. A lei da continuidade exprime os valores de estabilidade da burguesia e dos escalões etários mais elevados. A ela correspondem os padrões ditos “clássicos” que se fabricam ano após ano quase sem alteração. A lei da renovação exprime os valores sociológicos da juventude e da inquietação reflectidas em termos de variação de cores e de formas e de um certo exibicionismo. A eles correspondem as mais arrojadas criações da moda que geralmente não são adoptadas pela maioria dos con­sumidores, mas que exprimem um alto valor estético e, por vezes, até de espectáculo.
    Actualmente a moda adquire mesmo as funções de expressão duma forma de estar no mundo, principalmente quando tratada pela juventude. O vestuário e as suas variações são elementos duma gramática de represen­tação na sociedade, isto é nos conjuntos de seres humanos sociáveis, tendo um valor de relação que o aproxima muito duma linguagem.
    Os elementos de moda têm assim a função de sinais a que se poderá ou não dar valor de símbolos consoante as leituras que as várias gerações ou grupos deles fizeram.
    Portanto pode dizer-se que a função presentativa dos tecidos encontra actualmente uma renovada importância.
    Recapitulando as observações que acabamos de fazer sobre a moda, dir­se-á que, do ponto de vista dos tecidos, os elementos gramaticais da moda são os seguintes:
- cores
- desenhos
- texturas
- pesos/m2
- misturas de fibras
- acabamentos
    As cores são renovadas duas vezes por ano, segundo o ritmo das esta­ções, Primavera/Verão e Outono/Inverno.
    Os desenhos podem seguir um ritmo mais lento de variação, bastando ás vezes uma pequena alteração para surgir um efeito “novo”. Os efeitos lisos, com base em tafetá ou sarja, são praticamente infinitos, desempenhando a matéria-prima, o tipo do fio e a densidade da construção (textura) um papel decisivo nas características finais dos tecidos, tal como o peso/me o toque. As misturas de fibras podem ser também um factor de inovação. Os acaba­mentos: (rapado, com pêlo, mais brilhante ou menos brilhante, com ou sem adjuvantes químicos, etc) contribuem para dar aos tecidos o seu aspecto final.
    As novas colecções de tecidos de moda são apresentadas pelo menos com um ano de antecedência aos fabricantes de confecção em feiras interna­cionais especializadas, como por exemplo, entre nós a “Portuguese Offer”.

Tecido: A Moda

Fig. A moda pode por vezes impor motivos “extremistas” como por exemplo as riscas largas horizontais ou estilizações de peles de animais e outros motivos fortemente característicos.

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