Uma noção ampla de qualidade dos tecidos não pode ficar-se pela noção tecnológica de “aptidão para o uso” por mais englobante que seja o significado que se dê à aptidão.
Por seu lado o “uso” de um tecido não é meramente pragmático, como já foi referido e ilustrado.
Por isso é mais adequado falar-se em vários tipos de qualidades dos tecidos relacionando-os com as funções que eles desempenham nas sociedades e segundo as expectativas dos seus utilizadores.
De facto não é correcto dizer que um tecido leve de seda natural estampada é de melhor ou pior qualidade que uma sarja de lã e poliéster, porque eles se destinam a desempenhar diferentes funções. A seda terá funções estética e presentativa predominantes, enquanto a sarja terá basicamente a função pragmática de ser transformada em calças de homem ou fardamentos com uso intenso e desgastaste.
Dentro de cada um destes artigos é que haverá certamente tecidos de melhor ou pior qualidade, conforme os métodos de concepção e fabricação que forem empregados.
Também a relação empírica que se tende a estabelecer entre preço alto e qualidade, não é uma correcta forma de tratar esta questão.
Em primeiro lugar o preço só é alto ou baixo em relação à capacidade de compra do utilizador o que nada tem a ver com o tecido em si próprio.
Já o mesmo se não pode dizer em relação ao valor de um tecido. Esse valor é definido pela relação qualidade/preço, sendo maior para o comprador e para um dado preço unitário, o valor do tecido adquirido, quanto maior for a sua qualidade.
Do mesmo modo se baixar a qualidade, mas o preço se mantiver, o valor adquirido baixa também, visto que: V= Q/P
Optimizar a qualidade e/ou baixar o preço do metro do tecido produzido é a melhor maneira de incrementar as vendas, porque se aumenta o valor oferecido ao cliente. Os abaixamentos de preço unitário de venda que não resultarem dum cuidado estudo dos custos de produção não é todavia um caminho seguro, a médio prazo, (e talvez até a curto prazo) para assegurar a saúde económica da produção dos tecidos. A pressão da concorrência e a manutenção dos mercados já conquistados devem ser uma preocupação do designer de tecidos, embora tais decisões possam não ser inteiramente suas, principalmente nas empresas médias e grandes.
Uma política comercial mais agressiva e de maior futuro é a melhoria da qualidade (ou das qualidades) dos tecidos, considerando essas melhorias, por exemplo na qualidade estética (desenho, cor, toque) como um valor acrescentando que o comprador recompensará com a sua preferência no momento da compra, principalmente se o preço não sofreu um aumento manifestamente excessivo.
O comprador sentirá assim o maior valor da sua compra, porque o que ele deseja é obter a valorização do seu dinheiro através do tecido de qualidade que adquiriu (value for money).
Fica assim claro que o designer deve procurar conceber o tecido com os mínimos custos de produção e o máximo de qualidades possíveis - atingindo um equilíbrio que seja pragmático.
Quanto ao preço de venda, esse dependerá da política comercial da empresa (mas.também da sua organização administrativa) e da capacidade econômica do mercado (para que a empresa trabalha) e da necessidade, capacidade ou desejo de aquisição do tecido.
O designer, na sua consideração das qualidades dos tecidos que projecta fabricar deverá então proceder a uma análise segundo os cinco tipos de qualidade aplicáveis aos têxteis:
a) “Qualidade dispendiosa” - depende dos materiais e/ou dos processos de produção que são em si próprios caros (ex.: matéria-prima muito cara; lentidão necessária do processo de fabricação; aplicação de tecnologia muito sofisticada, etc.).
b) “Qualidade conceptual” - depende da adaptação ou não do produto à finalidade a que se destina (função pragmática) - ex.: um tecido para vestuário de desporto, um fato de trabalho, um fato espacial, etc.
c) “Qualidade de produção” - depende da conformidade ou não das propriedades do produto em relação com as especificações técnicas estabelecidas (NORMAS).
d) “Qualidade estética” - depende do factor “design” que garante a concepção do produto mas também as suas características estéticas e a sua adequação às tendências colectivas e/ou individuais do gosto dos consumidores (MODA).
e) “Qualidade comercial” - depende de todos os factores - apresentação, garantias, inovação, preço, que tornam o produto apetecível para o consumidor e lhe dá satisfação.
Estas cinco noções de qualidade devem relacionar-se com as três funções dos têxteis (pragmática, presentativa, estética) determinando-se o seu equilíbrio em cada caso. Assim poder-se-ão desenhar gráficos de função - qualidade, características para os artigos em estudo.
Alguns exemplos:
A - Seda natural estampada para blusas de senhora
Fig.
À função pragmática estão ligadas as qualidades de produção (tecido perfeito); à estética a boa qualidade e inovação no desenho.
A função presentativa refere-se à qualidade dispendiosa, isto é, o facto de ser seda natural.
Sendo um artigo caro a qualidade conceptual deve ser também elevada, isto é, o tecido deve estar perfeitamente adaptado às expectativas de conforto de quem o usa.
B - Sarja lã/poliéster para fardamentos
Fig.
Predominam neste caso as funções pragmática e presentativa que dependem da qualidade conceptual e da qualidade de produção. As outras qualidades não são tão importantes assim como a função estética por não se tratar de artigo de moda.
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