segunda-feira, 29 de março de 2021

Fervura do Algodão

As gorduras, ceras, pectinas e sais minerais contidos nas fibras de algodão cru constituem um obstáculo às operações de ultimação. A sua remoção eficaz é feita na operação designada por fervura. A fervura consiste num tratamento com uma solução alcalina a uma temperatura próxima da ebulição. Nestas condições dá-se a hidrólise das gorduras e ceras, facilitando a sua remoção. Como resultado obtém-se, portanto, um algodão hidrófilo.

Esta operação é normalmente efectuada numa solução de hídróxido de sódio a 10 a 50g/l, em presença dum detergente que seja resistente à soda cáustica e com bom poder dispersante. O enxaguamento subsequente deverá ser efectuado com água a ferver, para assegurar uma boa eliminação das ceras emulsiona­das sem haver coagulação.

Para além das ceras e gorduras, são eliminadas por este pro­cesso todas as impurezas solúveis do algodão, bem como as pec­tinas e as proteínas.

Como controlo do efeito da fervura, deve medir-se a hidrofi­lidade do tecido, por exemplo através do tempo de desapareci­mento duma gota de água colocada à sua superfície. No caso do tecido bem fervido, a absorção deve ser praticamente instantânea (tempo inferior a um segundo).

Caso o tecido não tenha sido desencolado, a fervura permite eliminar parte dos produtos de encolagem amiláceos, o que ésuficiente para certos fins.

Fervura do Algodão

 Maquinaria
Esta operação pode ser feita de forma descontínua, em rama, fio ou tecido, ou contínua, apenas no caso dos tecidos.

- Processos Descontínuos

Tradicionalmente a operação de fervura de tecidos é feita num autoclave. É uma máquina cilíndrica na qual é depositado o tecido em corda e na qual se faz a circulação do banho de fervura. Esta máquina pode trabalhar sob pressão, atingindo a temperatura de 130ºC. O tempo de operação é de cerca de 4 horas. Para evitar a oxidação da celulose em meio alcalino, deve expulsar-se o ar e em certos casos introduz-se mesmo um redutor como o bissulfito de sódio.

No caso da fervura de algodão em fio ou mesmo em rama, utilizam-se igualmente autoclaves com porta materiais apropria­dos. Dado que são estas mesmas máquinas que vão ser utilizadas na tinturaria, ocupar-nos-emos nessa altura da sua descrição mais detalhada.
A fervura de tecidos em autoclave é já pouco utilizada hoje em dia, por ser um processo longo e que opera em corda. Além disso, está provado não existir grande vantagem em trabalhar sob pressão.
A fervura em corda pode ainda ser efectuada numa barca de sarilho ou em jet, máquinas que se encontram descritas no capí­tulo do tingimento.
A fervura de tecidos ao largo pode ser efectuada em jigger. Trata-se duma máquina em que o tecido é trans­portado de um rolo ao outro, atravessando nesse percurso o banho de fervura. São necessárias várias passagens do tecido em ambos os sentidos.
Podem utilizar-se ainda outros tipos de máquinas, como por exemplo a máquina rotowa, constituída por um cilindro perfu­rado no qual se enrola o tecido e através do qual se vai bombear o banho de fervura.

- Processos Semi-contínuos

Para médias partidas, pode utilizar-se o sistema «Pad-Roll” (fulardar, enrolar a quente). O tecido é impregnado com o banho de fervura, espremido, pré-aquecido e enrolado. Após completado o enrolamento, a câmara de reacção é fechada e mantida a 100ºC durante 1 a 2 horas. Durante esse tempo, há uma lenta rotação para evitar que o banho se acumule no fundo.

Dispondo-se de várias câmaras de reacção, é possível traba­lhar apenas com as paragens necessárias para mudar de câmara.
Seguem-se os enxaguamentos, que podem ser feitos numa máquina de lavar ao largo.

- Processos Contínuos

Os tecidos podem ser tratados duma forma contínua quer em corda quer ao largo. Sempre que a qualidade do tecido o permita, é preferível trabalhar em corda, pois as máquinas são mais compactas.
Para o tratamento contínuo em corda, há as câmaras, nas quais, após um prévio aquecimento, o tecido é acumulado de tal forma que se consegue um tratamento contínuo a alta velocidade (da ordem de 100 m/min.) com um tempo de residência da ordem de 1 hora.
Para o tratamento contínuo ao largo, pode utilizar-se uma câmara em U, mas a capacidade do acumulador é naturalmente menor.
A fervura pode ainda efectuar-se em contínuo ao largo pelo processo Pad-Steam (fulardar-vaporizar). Neste caso, após impregnação do tecido com a solução de soda cáustica, o tecido é enviado ao vaporizador.

Para maior rapidez do processo, existem vaporizadores que funcionam sob pressão. Neste caso, a entrada e saída do tecido é revestida a rolos especiais com os quais se consegue um certo isolamento.

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